Viva o povo negro da Lapinha
Semana passada tive o prazer e a felicidade de participar de uma genuína festa junina:  a festa das adoráveis irmãs Argentinas (este é o sobrenome delas) , uma família de mulheres doceiras que vive no distrito da Lapinha, ali pertinho da gruta. Todo ano elas  realizam-  com apoio de comunidade-  a impecável festa com quadrilha, forró, fogueira, quentão, caldos, pastéis e os doces mais gostosos que eu já comi na minha vida.
O povo da Lapinha tem sua origem quilombola (são descendentes de escravos da fazenda do Fidalgo) e mantém fortes tradições de matriz africana. O Brasil foi o último país do mundo a libertar seus escravos e, muito a contra gosto Izabel enfiou-lhes o pé nos fundilhos sem um centavo de indenização, sequer um sitiozinho pra tocar a vida.
A primeira coisa que o dominador faz ao conquistar um povo é apagar suas memórias e identidade  para desmoralizá-lo. No Brasil  (esta cópia estadunidense)  ensina- se nas escolas que a grande colaboração do povo negro na nossa cultura, foi tão somente, a feijoada, a capoeira e o samba e que os negros eram na maioria submissos e não resistiam a escravidão, e pior!- precisaram da ajuda de brancos bonzinhos para se verem libertos. pois vamos à surpreendente verdade,  o fato é que a coisa era tensa, o pau quebrava a todo instante, os negros resistiam bravamente e lutavam pela a liberdade o tempo todo. E o segredo mais bem guardado de todos  os escravagistas:  importavam os negros de acordo com suas sabedorias  e conhecimentos prévios. Se precisavam construir casas  traziam gente do Mali - lá eles construíam mesquitas de 6 andares  com madeira e barro, e obviamente não o faziam por tentativa e erro  mas sim   utilizando de avançados cálculos estruturais.  Se precisavam de mão de obra pra plantar ou irrigar plantações de café traziam o povo do Zaire. Os Congoleses inventaram a enxada  e o arado . No Mali haviam extraordinários artistas fundidores de metal .Os Argelinos  eram exímios mineradores e inventaram a batéia para extrair ouro. A Matemática surgiu  no Congo Belga, nos arredores do lago Rutanzige.  Descobriu-se na década do 1950 a primeira calculadora de  que se tem notícia- um pequeno pedaço de osso com 10 cm ornado com um cristal de quartzo e com três séries de entalhes agrupados- ( conhecida como Bastão de Ishango) -  esse achado é   prova inconteste que os africanos já faziam cálculos matemáticos a pelo menos 18 mil anos antes do surgimento da Matemática na Grécia. 
Setecentos anos antes dos Gregos, o médico negro Inhoptep humilhava!!! Já fazia parto cesariana.
A negróide lagoasantense Luzia, nossa conterrânea- o ser humano mais antigo das Américas ,não deixa barato- chegou ao continente a 12 mil anos e sabe-se Deus como!?
Não se descarta inclusive a possibilidade de terem chegado aqui  navegando.
Eu poderia encher este jornal com histórias da superioridade do povo negro.
E por que  não se revela isto a nossas crianças negras ? Ora! Por um único e perverso motivo  - precisamos de mão de obra barata e temos que manter esta gente com baixa-estima para perpetuá-los na subserviência.(E ponto final !!!)
Para mim,porém,a maior prova desta  superioridade é o fato de terem sido divididos, oprimidos, aviltados, animalizados e ainda assim, subverteram a ordem e se impuseram ao opressor mantendo-se íntegros através de suas tradições, sua cultura ancestral camuflada para fugir da perseguição impiedosa do
 Catolicismo. 
Isto é algo  de uma grandeza de espírito  inexplicável e comovente.
E este é o extraordinário povo da Lapinha ! São estes heróis da resistência  que eu convido a todos vocês,meus amigos a conhecerem ali ó-  15 Km,  “ um tirinho de espingarda!”
A próxima grande oportunidade é o VII Encontro de Cultura de Raiz -Lapinha Museu Vivo -nos dias 25,26 e 27 de Junho de
2010  na Igreja Nossa Senhora do Rosário em Lagoa Santa.
Quem está organizando é o Grupo de Capoeira Angola- 
Associação-  Eu sou Angoleiro  e dos Atores Da Pândega
de Lagoa Santa.  Simplesmente imperdível!!!
Viva as irmãs Argentinas!Viva a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário!Viva o  Congado! Viva a Folia de Reis! Viva o Candombe- o pai de todos os Congos!
Viva a Lapinha!!!!!!
Um abraço fraterno, 
 Osório Garcia